Andar a pé, em nossa sociedade, é um parâmetro de pessoa mal sucedida. Você concorda? Uma pessoa que opta por usar o transporte público, seja ônibus, metrô ou trem e os próprios pés como meio de locomoção é comumente vista como uma pessoa de uma classe econômica inferior, que ainda não conseguiu e provavelmente não conseguirá ter seu próprio carro, um símbolo de status e até de poder.
Mas será que ter um carro é sinal de tudo isto mesmo? E andar a pé é um sinal de insucesso financeiro? Vamos ver. Quem usa o transporte público contribui para não aumentar o trânsito, engarrafamento e poluição. É verdade que o transporte público atualmente não atende os requisitos de um serviço de qualidade, que suporte a demanda necessária na maioria das grandes cidades do nosso país, mas isto é uma questão de participação social nas políticas de transporte, o que não existe hoje. Mas isto é outro assunto.
Quem opta pelo metrô, ônibus ou trem pode até demorar mais para chegar, ir um pouco apertado dependendo do horário e até ter que acordar mais cedo, mas também tem uma grande oportunidade de ler um livro, uma revista, conversar com um amigo ou amiga pelo telefone. E uma grande oportunidade também de caminhar até o ponto de ônibus ou a estação do trem ou metrô, um exercício diário que vai somando mais de 30 minutos de caminhada por dia, dose recomendada em consenso pelos profissionais de saúde para prevenir doenças e problemas vasculares, colesterol, obesidade, diabetes.
Quem anda de carro sai mais tarde e pega um engarrafamento monstruoso, principalmente quem mora em São Paulo. Fica estressado, não se movimenta, não consegue ler um livro ou conversar com alguém no celular, com risco de ser multado, contribui com o seu carro para o engarrafamento e ainda com a poluição da cidade.
E a questão financeira? Um carro popular hoje não sai por menos de R$700,00 a parcela. O financiamento é fácil de conseguir, pois as montadoras e lojas incentivam aquela imagem da pessoa ser bem sucedida se tiver um automóvel. Fácil de conseguir mas difícil de pagar, pois geralmente são 60 parcelas. Acaba-se pagando 3 vezes o valor do carro.
Além dos R$700,00 de nosso exemplo temos por volta de R$200,00 de seguro mensal, IPVA de R$800,00 por ano, R$400,00 de combustível pelo menos, R$60,00 de lavagem, por volta de R$1200,00 por ano em manutenção, mesmo preventiva. Ou seja, por ano, um carro custo ao seu dono pelo menos uns R$1526,00 por mês ou R$18 mil por ano! E ainda incentiva o sedentarismo e o estresse.
Já quem anda de transporte público deve gastar, nas mesmas bases, por volta de R$300,00 por mês ou R$3.600,00 por ano! São quase R$15mil de diferença no ano.
Mas e quando precisarmos viajar ou levar compras para casa, ou mesmo ir a lugares sem muita oferta de transporte público ou em um horário mais tarde? Com estes R$1.200,00 dá para usar um táxi em São Paulo, ida e volta em 17 dias!
Se você preferir, é possível um contrato de locação mensal de um carro que pode sair por R$900,00 ou locar somente nos dias necessários. Ou seja, de qualquer forma, ainda sobra dinheiro para fazer outras coisas, como uma academia, se alimentar melhor, fazer uma viagem de final de ano. Para se ter uma idéia, com estes R$15mil é possível fazer uma viagem de 20 dias a Europa com 2 pessoas, de forma confortável.
Tudo isso em troca de andar mais, ler mais, conversar mais, olhar mais a paisagem, contribuir com a diminuição do tráfego e da poluição, ter mais dinheiro para se alimentar melhor, fazer atividades físicas, se divertir. Ou seja, trocar o transporte particular por um transporte público, bicicleta, metrô, trem ou ônibus é poder juntar dinheiro e ainda aumentar a qualidade de vida.
E quem disse que para aumentar a qualidade de vida é preciso gastar mais dinheiro?
Até a próxima!
Um pensamento em “Andar a pé – qualidade de vida e economia”
Gostei muito desse artigo!!!!
Muitos estão penando por não colocar no papel os gastos cotidianos… depois vem a pergunta: PRA ONDE ESTÁ INDO MEU DINHEIRO?
Precisamos reavaliar nossa finanças!!!