Investindo no Tesouro Direto – Parte 2: LFT
Continuando a série de Títulos Públicos ofertados no Tesouro Direto, hoje nosso assunto é a LFT – Letra Financeira do Tesouro. É, o nome é bem parecido com o que vimos no último texto desta série (LTN – Letra do Tesouro Nacional, no post Investindo no Tesouro Direto – Parte 1: LTN), mas eles têm características bem diferentes.
Para começar, a LFT é um título pós-fixado, que valia R$ 1.000,00 em 01/07/2000 (uma convenção). De lá pra cá, o título foi remunerado pela Taxa Selic diariamente. Vale notar que a taxa Selic diária é um pouco diferente da Meta definida pelo Banco Central.
Dessa maneira, conseguimos ver que o preço da LFT é sempre mais alto que o preço do dia anterior, já que as taxas são sempre positivas. Para se ter uma idéia, o preço de uma LFT com vencimento em 07/09/2012, no dia 08/06/2012, era de 5.230,080825. Ou seja, desde o dia 01/07/2000, a LFT já rendeu 423%!
Para calcularmos o preço de uma LFT, precisamos do valor corrigido desde 01/07/2000 pela Selic. Chamamos de VNA – Valor Nominal Atualizado, e pode ser encontrado no site do Banco Central (Clique aqui).
A negociação, como em qualquer outro título, é feita por uma taxa (nesse caso, ágio ou deságio) aplicada sobre o VNA. Para ser mais exato, a taxa deve ser aplicada sobre o VNA projetado: é praxe, no mercado, que toda operação seja feita a termo, ou seja, o acordo de compra e venda é fechado em um dia, e a liquidação do título ocorre no dia seguinte. Como a LFT tem a rentabilidade atualizada pela Selic todos os dias, logo ela deve levar em consideração a taxa Selic que será divulgada no fim do dia de negociação.
Só então, será aplicada a taxa. Na prática, fica assim:
Ao multiplicarmos o VNA pelo fator da taxa Selic de um dia (segundo termo da fórmula), encontramos o chamado VNA Projetado, e sobre ele aplicamos a cotação (último termo da fórmula acima).
Agora fica a pergunta: quando vale a pena investir em LFT? Já sabemos que a vantagem dela é que o preço nunca cai, mas isso não significa que é um investimento bom ou ruim. Comparando com a nova regra da poupança, a LFT deve ser sempre melhor, uma vez que ela rende 100% da Selic, e a poupança só 70%. No entanto, a comparação não é tão simples assim, pois os custos de transação no Tesouro Direto e o Imposto de renda devem ser descontados.
Outro ponto interessante: faça chuva ou faça sol, a LFT é remunerada pela taxa básica do mercado. Assim, se o investidor precisar se desfazer da posição antes do vencimento do título, a possibilidade de prejuízo é praticamente nula. O que é bastante diferente da LTN, cujos efeitos da marcação a mercado podem ser negativos.
Então a LFT pode ser uma boa pedida para aplicações de curto prazo, cuja intenção seja não deixar o dinheiro parado na conta e vê-lo rentabilizado pela taxa básica de juros.
Mais uma situação em que a LFT pode ser um bom investimento é quando o cenário do investidor contempla um ciclo de alta de juros, o que faria com que a Selic se elevasse. Assim, seu investimento teria remuneração maior a cada aumento da Selic.
Vale lembrar que quanto aos cálculos dos preços e taxas, o site do Tesouro Direto disponibiliza um documento com a metodologia utilizada (Clique aqui). Recomendo o seu estudo quando já estiver com os conceitos de cada título dominados, e a matemática não lhe pareça um monstro de sete cabeças.
Agora vamos a um exemplo prático, com os dados do Tesouro Direto:
Vemos que há apenas um vencimento de LFT: 07/03/2017. Isso se deve ao fato de que, historicamente as LFT sempre representaram um grande percentual da dívida pública brasileira. Mas o Tesouro Nacional tem se esforçado para diminuir esse percentual, uma vez que é muito mais fácil controlar dívidas prefixadas ou indexadas a índices de inflação, em comparação com títulos pós-fixados (também chamados de flutuantes) como a LFT.
A taxa ao ano desta LFT é de -0,09%, o VNA é de 5.235,757781, e o prazo para o vencimento é de 1188 dias, após a data de liquidação. Logo, o preço se apresenta desta maneira:
Exatamente como informado no site. Com a LFT não consigo fazer muitas projeções de mudanças de taxas (assim como fiz na LTN), já que sua remuneração é pós-fixada.
LFT é o investimento com menos variação de preço, e sua rentabilidade será sempre igual à taxa Selic. Por isso, esse título é muitas vezes utilizado como parâmetro de comparação de rentabilidades: sem tomar riscos, é possível receber a taxa básica de juros da economia. Quando compro uma LTN, por exemplo, corro o risco de que a taxa de juros suba, e minha LTN tenha uma rentabilidade menor do que a Selic do período. Esse tipo de comparação é muito importante, mas fica para um próximo post.
No próximo mês, falaremos sobre NTN-F e NTN-B, os últimos títulos públicos que estudaremos, completando assim a série sobre o Tesouro Direto.
Espero seus comentários, dúvidas e sugestões.
Saudações
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