Investindo no Tesouro Direto – Parte 1: LTN
No fim do mês passado foram publicados dois textos aqui no blog tratando do tema: o primeiro sobre o risco de investir em Títulos Públicos Federais (Títulos públicos e seus riscos…, por Rubens Hirakawa), e o segundo, apresentando o Tesouro Direto, uma ferramenta criada pelo Tesouro Nacional para que pequenos investidores (como nós, mortais)tenham acesso aos títulos da dívida emitidos pelo TN (Seu dinheiro está investido no banco? Que pena, está perdendo dinheiro…, por Janser Rojo).
Nosso foco agora será nas características de cada título existente no Tesouro Direto, e nas situações em que eles podem ser vantajosos. Quanto aos cálculos dos preços e taxas, o site do Tesouro Direto disponibiliza um documento com a metodologia utilizada (Clique aqui). Recomendo o seu estudo quando já estiver com os conceitos de cada título dominados, e a matemática não lhe pareça um monstro de sete cabeças.
LTN – Letra do Tesouro Nacional
É um título prefixado, que em seu vencimento vale R$ 1.000,00. É negociada uma taxa, à qual esse valor é descontado.Um ponto positivo da LTN é a previsibilidade do seu retorno, e isso é bastante interessante para quem tem planos de médio e longo prazo, já que assim é possível saber qual o valor que teremos no futuro, se investirmos às taxas de mercado.
Uma associação que pode ser feita para facilitar a interpretação é a de compra de uma geladeira que custe R$ 1.000,00. Negociamos com o vendedor um desconto. Quanto maior o desconto, menor o preço que pagaremos, certo? Então, se nossa intenção é comprar uma LTN, tentaremos fazê-lo com a maior taxa possível. Se pretendemos vendê-la, é melhor que seja com a menor taxa possível.
Matematicamente (não se assuste com esta palavra), podemos chegar a estas conclusões olhando simplesmente para a fórmula de cálculo do preço do título:
, onde dué a quantidade de dias úteis entre hoje e o vencimento do título.
Traduzindo, essa fórmula diz apenas que o preço da LTN hoje é igual ao valor do título em seu vencimento, trazido a valor presente pela taxa de desconto que foi negociada.
Difícil? Calma, é só a gente não se assustar. Mas onde estão as conclusões que tiramos no primeiro parágrafo da LTN? É o seguinte: quanto maior for essa parte de baixo da divisão (pra quem se lembra das aulas de matemática, esse é o denominador), menor será o resultado da divisão, já que a parte de cima (numerador) é fixa. Mas na parte de baixo, a única variável é a taxa. Resumindo, quanto maior a taxa, menor será o preço (e vice-versa). E aí está!
É fácil imaginar que os preços de uma ação mudam a todo momento, e que a cada dia, tenham um preço diferente. Com os títulos públicos vale a mesma coisa: a taxa é mudada a todo momento (o que automaticamente altera o preço), e a cada dia possui um preço diferente. Esse processo é chamado Marcação a Mercado, e logo será abordado mais profundamente aqui neste blog. Ele é importante para dizer qual o preço de um título no final de cada dia, dada a taxa em que ele foi negociado.
Por exemplo, voltando à geladeira: imagine que hoje comprei a geladeira com 15% de desconto. E que amanhã, como a procura por essa geladeira foi muito grande, o gerente da loja decida diminuir o desconto dela para 10%. O preço mudou, certo? E, pra mim, foi pra melhor, já que comprei algo por R$ 850,00 (caso o valor original da geladeira seja R$ 1.000,00), e agora ele vale R$ 900,00. Posso vendê-lo, não? Colocaria R$ 50,00 no bolso!
Com a LTN é a mesma coisa. Se a sua intenção é levar o título até o seu vencimento, não precisa nem se preocupar com isso, uma vez que no vencimento o título valerá R$ 1.000,00 de qualquer maneira. Mas, se por algum motivo você tiver que se desfazer dele antes do vencimento, a Marcação a Mercado é de suma importância. Pode ser que o título esteja valendo R$ 700,00 ou R$ 950,00, ou qualquer outro valor, mas é aí que está o risco da LTN: a possibilidade de vendê-la a um preço pior do que o de compra.
As LTNs possuem vencimentos no primeiro dia de cada trimestre, em geral, e tem prazo de até 5 anos. Para títulos prefixados mais longos, o Tesouro Nacional prefere emitir NTN-F (Notas do Tesouro Nacional – Série F), cuja diferença para a LTN é o pagamento de cupons (pedaços do valor do título) antes do vencimento. Falaremos sobre ela em outra oportunidade.
Resumindo os conceitos, segue um exemplo prático:
Ao entrar no site do Tesouro Direto e tentar comprar algum título, nos depararemos com esta tela abaixo:
Vemos que há três vencimentos de LTN: 01/01/14, 01/01/2015 e 01/01/2016. Caso eu vá comprar uma LTN 01/01/14, a taxa indicada pelo TD é de 9,28% ao ano.
Assim, podemos chegar ao preço do título com a conta que vimos acima, sabendo que há 433 dias úteis até o vencimento:
Exatamente como informado no site. Agora, vamos supor que daqui a 10 dias úteis eu precise vender o papel. Se a taxa continuar a mesma, imagino que o preço estará maior:
Mas, se a taxa tiver aumentado para, digamos para 9,50%, o resultado é um pouco diferente:
Pode até ser que, comparado ao preço que compramos, tenhamos lucro (lembrando que não estou levando em consideração os impostos e custos devidos na operação). Mas isso significa que não ganhamos nem os juros do período. Nada.
O que não impede que, mesmo com as oscilações, no fim do período o valor do título seja R$ 1.000,00. E a taxa de retorno seja exatamente aquela que negociamos quando compramos o papel. E é exatamente aí que está a questão da previsibilidade, tanto para o investidor como para o devedor. Por isso, para o governo é interessante emitir cada vez mais títulos prefixados, pois sua dívida fica menos flutuante.
Dúvidas vão surgir, e deixo este espaço aberto para questões, debates e sugestões. Nos próximos textos, continuaremos a conhecer os demais títulos públicos.
Saudações
7 pensamentos em “Investindo no Tesouro Direto – Parte 1: LTN”
Olá Camilo, obrigado pelo post explicando um assunto que parece tão complicado para nós "mortais".
Quer dizer então que eu tenho que sempre escolher o título que estiver mais barato, no caso a LTN com vencimento em 01/01/2016 pois é a que custa menos?
Olá, Roberto.
A LTN que custa menos geralmente será a mais longa (lembra da fórmula que coloquei no post? Como a quantidade de dias úteis até o vencimento é maior, e a taxa também costuma ser maior quanto mais longo for o título, o preço é cada vez menor naturalmente), e isso não é necessariamente melhor.
Mais pra frente escreverei um pouco sobre como escolher entre um ou outro vencimento, mas resumidamente, você deve levar em consideração o prazo que você pretende ficar com esse título (será até o vencimento?), a taxa de cada título (que é expressa em % ao ano), e que títulos mais longos possuem maior variação de preços (devido à maior incerteza no longo prazo).
Ou seja, não se atente apenas ao preço do título!
Espero ter ajudado na sua escolha.
Saudações
Obrigado pela resposta Camilo, acho que peguei a ideia. Caso eu vá deixar até o vencimento, melhor pegar o de maior taxa certo? Pois significa que vai render mais que os outros que tem menor taxa.
Abraços!